Com o que você se compromete em 2024?

Por Júlia Ramalho

No início do ano há sempre a esperança do recomeço e de criação de novas oportunidades. Muitas metas, objetivos e planos são traçados e muitos esquecidos ao longo do ano. E o que pode ser diferente em 2024? Para que seja um ano de maiores realizações, é preciso saber o que se quer, se comprometer, entender o processo e se responsabilizar.

 

Afinal, o que é se comprometer?

Comprometer é estabelecer um compromisso, assumir obrigação e responsabilidade. 

Sabemos que o compromisso é fundamental nas relações pessoais, de trabalho e de mudanças individuais. Quando tenho um amigo, tenho um compromisso tácito de apoiar e ajudar essa pessoa. E, quando estou comprometido com meu trabalho, me sinto na obrigação de fazer meu melhor. Quando me comprometo com meu desenvolvimento fico firme diante às tentações, desafios e dificuldades.

Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, nos alertou do rumo que as relações estavam tomando nos tempos atuais.. Ele chamou de “modernidade líquida” esse momento em que as relações se tornam cada vez mais superficiais, quando as relações “escorrem entre os dedos”. O que era líquido, agora se tornou vapor! 

Muitas relações não chegam a se estabelecer. E outras se desfazem como vapor, no mundo BANI (E esse cansaço que não passa? ). Não por acaso convivemos com o fenômeno de “gosthing“, o ato de sumir de repente da vida da pessoa, não respondendo mais mensagens.

No trabalho, vemos a dificuldade de atrair e reter talentos. Muitas empresas têm vagas constantemente em aberto e uma rotatividade alta. Não há compromisso com as empresas e nem tão pouco com o trabalho. O “quiet quitting” (“Quiet Quitting” e “Quiet Firing” expõem a saúde mental nas organizações ) e o “presentismo“, ato de estar presente no trabalho e não produzir, são alguns dos exemplos da real crise de engajamento. 

Nossa sociedade digital, tecnológica e imediatista, imersa em milhões de possibilidades, nos tornou impacientes com os processos e evitantes de compromissos e responsabilidades. 

De fato as pessoas não sabem o que querem!

O que se vê é uma real dificuldade de fazer escolhas, estabelecer foco e compromisso, seja com as relações, com a carreira e mesmo com a própria vida! Todos querem tudo ao mesmo tempo, à mesma hora, e com garantia de felicidade e acerto. O que não existe!

Nesse novo mundo que se instalou, se comprometer é a exceção. Tudo é fluído. Então, por que se comprometer e assumir responsabilidades? Por que apostar em uma escolha e em um processo para alcançá-la? 

Seja na construção de relações, no trabalho e carreira, ou mesmo no próprio desenvolvimento, quando fazemos escolhas, colocamos foco e nos atemos ao processo, nos tornando responsáveis pela escolha. 

Quando não estamos na jornada do nosso próprio desenvolvimento, não temos claro nosso desejo e propósito, e muitas vezes nos comprometemos com o que “pega bem” querer, ou com o que todos querem. Ou, mesmo, com o que o outro quer para nós. Ficamos à espera de estímulos externos para nos mantermos motivados e engajados. Somos estimulados por compensações ou nos movemos para evitarmos maiores sanções e perdas. 

Nosso comprometimento se torna apenas uma obrigação moral, um “tenho que…”. E não uma escolha ética a partir do desejo e propósito, algo que “eu quero, me engajo e me responsabilizo por…”.

 

A força do comprometimento nas escolhas

Assim, diferente de necessitar de motivações externas, quando temos o comprometimento ético nas escolhas nos sentimos responsáveis e agimos a partir do coração. Enxergamos o que é valor, nos engajamos, estabelecemos o compromisso e a responsabilidade como consequência. Passamos a entender o compromisso como caminho e uma aposta, mesmo que não haja garantias. 

Através da escolha ética, nos comprometemos com o propósito, valores e com o que desejamos. E, reconhecemos o processo para alcançar o que queremos e nos mantemos fiéis a ele. Não há mágica. Há um caminho desconhecido com acertos e erros. Os resultados, as realizações e conquistas são apenas consequências da escolha e do engajamento ao processo para alcançá-los.

Se você se compromete com um novo estilo de vida, de maior bem-estar, isso não tem fim. É uma jornada! Você pode melhorar todo dia um pouco. Ora cuidando de descobrir um exercício que te agrada, ora cuidando da sua ansiedade e saúde mental, ora cuidando mais da alimentação e descobrindo formas diferentes de lidar com ela. 

Mesmo que, no caminho, você perca as forças, “meta o pé na jaca”. Se você se valoriza e se sente responsável por sua vida, continuará encontrando formas de reajustar a rota e seguir em frente. E assim, a cada dia, um pouco mais, irá conquistar um novo estilo de vida e de maior bem-estar.

 

Comece a se comprometer de verdade!

1) Faça uma lista das coisas que acha importante e gostaria de se comprometer e realizar em 2024.

2) Reflita  sobre a sua resposta. Responda: é mesmo seu desejo ou uma demanda do outro e/ou da sociedade? Se for demanda do outro ou da sociedade, provavelmente você precisará de vários estímulos para se manter no processo. Estará guiado por uma escolha de obrigação.

 3) Se for realmente um desejo seu, reflita: o quanto de energia, recursos, determinação e foco tem para realizá-lo? O que você está disposto a abrir mão (lembre que é um processo) para que isso aconteça? Quanto mais próximo do desejo, maior a energia para realizá-lo. Se a energia for baixa, você precisa rever se é um desejo e uma prioridade sua.

Se realmente for, que tipo de apoio e qual disciplina e rotina precisa desenvolver para alcançá-lo? Aproveitando o Janeiro Branco, faça um “check up” e avalie se essa baixa energia não é um problema com alimentação, hormônios, falta de atividade física ou mesmo uma depressão.

Um ótimo 2024 de comprometimento! Que o seu bem-estar e a sua saúde mental sejam uma prioridade!