O que é isso que você está sentindo?

Por Júlia Ramalho

 

Essa é uma pergunta simples, mas ao longo de quase 25 anos como psicóloga e 18 anos como coach de executivos, líderes e empresários, posso afirmar que se trata de uma pergunta desafiadora para muitos.

Reconhecer nossas emoções e a dos outros é uma tarefa extremamente importante para nutrir nossas relações. Quando queremos construir boas relações, sejam pessoais ou no trabalho, reconhecer as emoções dos outros é a base da empatia.

Dentre o conjunto de emoções, há as positivas. Como, por exemplo: alegria, gratidão, serenidade, curiosidade e interesse no mundo, esperança, orgulho, diversão, inspiração, reverência e amor, tem importante papel para gerar abertura, confiança e engajamento. Saber incentivá-las permite que possamos intencionalmente construir e manter relações mais profundas.

Há, por outro lado, as emoções negativas. Por exemplo: culpa, decepção, desespero, estresse, indignação, medo, tristeza e raiva. Elas nos levam a agir de forma defensiva seja nos impulsionando para lutar ou fugir da situação. Acabamos, assim, muitas vezes expressando impaciência, ficamos menos propícios à escuta e com menor vontade de nos conectarmos. Dessa forma, ao não cuidar dessas emoções, permitimos que a ansiedade se expresse como esse alerta para que tenhamos que nos defender ou atacar.
Neste sentido, uma das coisas mais importantes para nossa saúde mental e para o equilíbrio de nossos relacionamentos é a importância de reconhecer nossas emoções para evitarmos que elas controlem nossas ações. Quando não percebemos nossa irritação, podemos virar vítimas da nossa raiva e agirmos de forma impensada e descontrolada.

Quem nunca partiu para uma briga sem perceber que estava se alterando? E, após a briga, quem nunca sentiu remorso e culpa por ter agido de forma desproporcional e magoado alguém com quem importamos? E ainda, quem nunca desenvolveu algum mal estar físico devido a uma raiva contida?

Reconhecer e expressar sentimentos não é tarefa fácil

Muitos de nós fomos criados num ambiente onde não se falava ou não se validava as emoções sentidas. Em nossa sociedade, quando uma criança expressa raiva, normalmente os adultos pedem para que ela se acalme, ou, se ela fica triste, pedem para que deixem a tristeza de lado.
Assim, as crianças crescem reprimindo suas emoções, sem saber como reconhecer ou expressar suas emoções.

Além disso, nossas organizações não costumam promover um ambiente de segurança psicológica. Amy Edmondson, professora na Harvard Business School, define segurança psicológica como “um clima de equipe, caracterizado por confiança interpessoal e respeito mútuo, no qual as pessoas se sentem à vontade em serem elas mesmas”.

Sem esse ambiente, muitos não se sentem seguros para expressar emoções como medo, frustração, ansiedade e tristeza. Isto é, mesmo que tenham sido estimulados a expressar as emoções na infância, quando adultos, ao estarem imersos em um ambiente que desencoraja sua autenticidade, tendem a se fechar e esconder seus sentimentos.

Há ainda, o reflexo da repressão das emoções na infância que cria dificuldades para os relacionamentos do adulto. A criança que não expressou seus sentimentos na infância tende a ter dificuldade de expor e forjar relações mais íntimas.

Essa distância afetiva acaba por gerar uma alienação do que se passa internamente e dificuldade de ver e reconhecer as emoções dos outros. Assim, muitos adultos acabam por buscar relações baseadas em expectativas irreais e de perfeição. Não sabendo ser autêntico, constroem relações superficiais onde não se sentem seguros para expor seus sentimentos.

Reconhecer e expor emoções ajuda a desenvolver a inteligência emocional

Marc Brackett, autor do livro Permission to Feel, enfatiza que conhecer e expressar emoções nos ajuda a ter uma melhor inteligência emocional. E desenvolvê-la leva a uma maior saúde psicológica, menos ansiedade, e menos tendência à depressão e Burnout no trabalho. Também favorece melhores decisões na vida e melhor qualidade de relacionamentos, além de melhores desempenho acadêmico e no trabalho.

Ele também afirma que muitos são fechados para os próprios sentimentos e dos outros. E, assim, frequentemente, fazem julgamentos rápidos acerca de como os outros estão se sentindo, usando como referência as expressões faciais, a linguagem corporal e os comportamentos observados.

Desenvolva a habilidade de ser um cientista de emoções

Para melhor desenvolver o conhecimento sobre as emoções e a inteligência emocional, Brackett sugere que devemos nos tornar cientistas de emoções. Precisamos ser capazes de fazer boas perguntas, para garantir que compreendemos nossos sentimentos, bem como os dos outros.
O cientista de emoção é aquele que procura por temas e tenta entender o que está por trás dos comportamentos das pessoas, incluindo a falta de habilidade de regular as emoções. Ser um cientista de emoção é, antes de tudo, a capacidade de se tornar mais preciso no entendimento das emoções. É alguém que reconhece nuances das emoções e sabe nomeá-las em si e nos outros, de forma mais acurada, tornando-se também mais efetivo em regulá-las.

Dicas para lidar com emoções e aumentar a Inteligência Emocional:

  • Aprenda a meditar e a observar as emoções que surgem, tente nomeá-las, mas não se apegue a elas.
  • Nomear as emoções corretamente nos permite encontrar caminhos para regular as emoções. O que estou sentindo é desapontamento ou raiva? Reconhecer as estratégias que você usa para lidar com essas emoções que você nomeou te ajudam ou atrapalham?
  • Pare para ouvir, reconhecer e validar as emoções que outras pessoas estão demonstrando. Aprimore sua capacidade de perceber as emoções de outra pessoa. Isso ajuda também a identificar estratégias de como você reage quando percebe as emoções dos outros.
  • Encare esse processo como uma jornada, com que pode ir se desenvolvendo ao longo da vida. Quanto mais tempo, atenção e foco você coloca em perceber e reconhecer as emoções, melhor você vai se tornando para lidar com elas.