Auto conhecimento e saúde mental

Por Júlia Ramalho

 

 

Quem sou eu? O estou fazendo nesse mundo? Eu sirvo para quê? Sou bom em quê? Qual o meu propósito? Se você já se fez essas perguntas e dedicou algum tempo sobre elas, talvez já esteja no caminho da auto consciência (self awareness) e  auto conhecimento. Mas se você tem pensado muito sobre essas questões, talvez esteja numa crise existencial. A crise existencial é esse momento na vida em que as respostas que tínhamos sobre nossa própria vida já não nos serve mais. É o momento em que reavaliamos quem somos e o que queremos. São momentos fundamentais para evoluirmos e avançarmos no nosso próprio desenvolvimento. E, após períodos como uma pandemia, muitos estão vivendo essa crise.

O que faz o seu coração bater? Talvez você me diga o nome de uma pessoa, talvez me descreva um novo desafio, um livro que está escrevendo ou mesmo um filho que acaba de nascer. Penso que o que faz o coração bater é o fato dele expandir e contrair. 

Expansão é quando vamos para fora de nós mesmos. É quando amamos, nos envolvemos em novos trabalhos, viajamos e exploramos. É quando conquistamos novas responsabilidades e desafios, quando aprendemos coisas novas. Tendemos a dizer que o que faz o coração bater é nossa expansão no mundo, é quando vemos que estamos vivos. Nossa sociedade reforça todos os símbolos de expansão: novo emprego, filho, publicação de livro, rede social cheia de fãs, aquisição de nova casa, tudo que realizamos! Alguns se iludem pensando que é possível uma vida apenas em expansão. E seguem de movimento em movimento, de conquista em conquista, acreditando que não precisarão enfrentar sua vida miúda, em contração. Eles se Iludem pensando (ou não pensando) que vivem apenas para conquistar e realizar. E qualquer coisa que tire deles essa ilusão – seja uma demissão, uma doença, uma aposentadoria, uma crise financeira- qualquer coisa que os limite, gera enorme frustração e sofrimento. 

A contração é quando vivemos a vida miúda. Essa vida na qual você tem que preparar sua própria comida, arrumar a sua cama, limpar seus pratos, cuidar de seu lixo, limpar sua bunda e escovar seus dentes… essa vida da qual ninguém escapa. Mesmo que você você seja presidente de uma nação, CEO de uma grande empresa, provavelmente aos domingos, no meio de uma pandemia, ou em algum momento da vida, você acabará se dando conta que não há como escapar. Nela nos recolhemos e cuidamos de pequenos afazeres da vida e cuidamos de nós mesmos. Se paramos ai, podemos ficar presos e alienados na própria vida, com a ilusão que controlamos tudo com nossas rotinas.

Autoconhecimento é uma das coisas mais complexas da vida. Conquistar esse conhecimento não é tarefa de um dia. É, sim, uma jornada que a cada encruzilhada, a cada grande decisão, nos convida a saber quem somos. É a capacidade de saber o que faz o nosso coração bater. Saber o que te expande e o que te contrai e como eles se auto completam. Assim, não é possível viver uma vida apenas de expansão e nem só de contração. A vida se dá quando o coração bate e se alterna entre expansão e contração. 

A saúde mental reside ai, na capacidade de identificar o que te expande sem esquecer o que te contrai. Não há juízo de valor na expansão ou contração, nenhum é bom ou ruim. Precisamos de ambos. Quando estamos apenas em expansão, podemos chegar à mania, ao esgotamento (burnout), ao estresse. Quando estamos apenas contraídos, na nossa rotina miúda, ficamos sem fôlego, vamos progressivamente encolhendo e perdendo todas nossas possibilidades de realização, como uma semente protegida, não germinamos. 

Para quem gosta de biografia, indico o livro de Joshua Greene  “Here comes the sun”. Ele conta a história do Beatle George Harisson que viveu uma vida de sucesso, fama, riqueza, glamour, drogas e rock and roll. No meio de sua jornada ele resolveu se submergir na religião oriental e fez uma ligação espiritual entre a música e seu espírito. E, no final de sua vida, ele dedicou grande parte de seu tempo cuidando do seu jardim.

A saúde mental está na capacidade de construirmos o nosso próprio ritmo de expansão e contração. Alguns acreditam que a vida precisa bater forte, com grandes realizações nos impulsionando e energizando. Outros que a vida bate suave, com rotinas e segurança que confortam e aninham corações. E os que tem auto consciência (self awareness) e autoconhecimento reconhecem que o coração tem suas arritmias. Identificam suas necessidades de expansão e contração de acordo com contexto que estão vivendo e ao ritmo de seu coração. Pulsam e alternam suas escolhas, criando seu próprio fluxo e sua saúde mental. 

Me conta: 

Como você tem desenvolvido seu autoconhecimento?

Como tem cuidado da sua saúde mental?

 

 

 

* Júlia Ramalho tem paixão em ajudar pessoas e organizações a resolver problemas complexos e a crescer. Tem mais de 30 anos trabalhando como consultora e mais de 18 trabalhando como coach. Ajudou mais de 1.200 executivos a desenvolver pessoas e expandir seus negócios. É Psicóloga, Administradora, Mestre em Administração, Coach de Executivos desde 2005 na Estação do Saber- Coaching e Consultoria, onde é fundadora e sócia. Em 2013 Fundou a Federação Internacional de Coaching – capítulo Minas. De 2015 a 2017 lançou o projeto de Designers do Futuro para ajudar a sensibilizar pessoas e organizações sobre o impacto das novas tecnologias no mundo do trabalho e nas organizações, tendo feito palestras em todo o Brasil sobre o tema. De 2015 a 2021 como coach e consultora da Ford no Projeto Mundial CEM (customer experience movement) onde adquiriu mais experiência em CX- Customer experience e EX- Employe Experience e aplicou dados ao processo de coaching. Em 2021, em conjunto com Arian Saddam Hossain (Bangladesh) o projeto dos DdF – Designers do Futuro se materializa em uma empresa Glocal especializada em novas tecnologias como Business Intelligence, Inteligência Artificial, Machine Learning e Blockchain para trazer crescimento às organizações.