E essa ansiedade que não passa?

Por Júlia Ramalho

 

No post da última semana falamos do cansaço que não passa. Descrevemos que estamos inseridos  num mundo BANI -Brittle, Anxious, Non-linear, Incomprehensible, o que vem ajudando a agravar a saúde mental de todos. Explicamos que, para darmos conta de navegar nesse mundo, precisamos, de forma intencional, abrir espaço para sentir, elaborar e agir diferente.

O conceito de Brittle (frágil) foi descrito como o que parece muito forte, mas de repente, se torna frágil e quebra. Há aí uma vulnerabilidade e impermanência das coisas expostas a todo instante. E descrevemos como podemos lidar com essa fragilidade ao redor de nós, e em nós. Hoje, nossa conversa passa por entendermos mais o que é esse mundo Anxious (ansioso). 

Fontes da ansiedade

Não é difícil entender por quê estamos tão ansiosos. A própria fragilidade e vulnerabilidade (Britlle) descrita é disparada a cada momento em que reconhecemos que não estamos no controle das coisas. E, como vimos, ela é disparada em todas as dimensões da nossa vida. 

Além disso, fomos passando a viver cada vez mais imersos em nossos celulares e no mundo digital. O que por si só não é bom nem ruim, mas traz consequências. Sem perceber, fomos desenvolvendo a FOMO* – fear of missing out (o medo de ficar de fora) –, ou seja o hábito de checar o celular a todo instante em busca de algo novo. 

Essa sociedade imersa no online e informacional traz, em si, um paradoxo. Consumimos muitas informações mas, muitas vezes, não conseguimos pensar sobre elas, apenas reagimos a elas. Imersos nesse excesso, encontramos dificuldade de pensar e refletir sobre as coisas. Assim, somos invadidos e acelerados, passando a reagir cada vez mais. 

Reagir significa agir sem pensar. Agir com nosso sistema mais antigo: o de luta e fuga. Dessa forma, esse excesso de informação nos convida ora à paralisação, ora ao confronto e agressividade. Tomados pelo medo de não saber como lidar com a realidade cada vez mais complexa e que expõe nossa vulnerabilidade, reagimos.

Reações inconscientes 

Se o mundo on-line nos trouxe todas as possibilidades, por outro lado trouxe também um convite à compulsão (repetição) para que consumamos mais informação. O que esse excesso esconde e que muitas vezes não sabemos, é que não sabemos o que queremos e nem por onde queremos seguir. A compulsão da busca da informação coloca fantasiosamente a resposta fora, quando a busca deve vir de dentro. Assim, seguimos cada vez mais conectados e ansiosos.

Além disso, esse ambiente digital, hiperconectado, cheio de informações e de baixa reflexão tornou-se o terreno fértil para fake news. Todas informações com contornos de “Verdade” nos geram informações que nos deixam ainda mais vulneráveis, inseguros e com medo. 

As fake news, que já estavam a todo vapor no mundo das redes sociais digitais, agora se tornam exponenciais com o Chat GPT. Seja ela como um propagador de inverdades (Fake News), seja como um recurso para criá-las com textos e imagens. 

Judson Brewer em seu livro “Unwiding Anxiety” — Descontraindo a Ansiedade — diz que a ansiedade sempre esteve entre nós, mas que nos últimos anos ela se tornou dominante em nossas vidas. A ansiedade habita a parte do cérebro que resiste ao pensamento racional. Dessa forma, muitas vezes nem reconhecemos que estamos ansiosos. Não identificamos os hábitos que escondem nossa ansiedade e ficamos presos neles. 

Em seu laboratório de pesquisa, Judson comprovou que mindfulness e meditação são duas vezes mais eficientes para lidar com ansiedade do que outros métodos comportamentais convencionais. Como por exemplo, focar na força de vontade, fazer substituições ou cuidar do ambiente para não ter tentações.  

Durante o curso que ministrei “Aprenda a meditar para controlar ansiedade” os participantes, logo de início, eram convidados a observar a forma que respiravam. Com isso, muitos rapidamente aprenderam a identificar como estavam ansiosos e como algo básico, como respirar e suas técnicas, pode ser um importante aliado para diagnosticar e controlar nossa ansiedade. 

Perceber que a ansiedade é hoje estrutural e que a escondemos em vários hábitos, nos ajuda a melhor lidar com ela e nos colocar no caminho da ação e não da reação. 

Para maior reflexão, seguem algumas perguntas provocadoras:

Você consegue identificar seus hábitos de ansiedade?

Da próxima vez que for executar o hábito, pratique a atenção plena. Observe-se com curiosidade executando o hábito. Não se julgue. Se for o hábito do uso do celular, se questione:  o que estou fazendo, o que estou buscando? 

Qual a importância dessa informação? O que ela me provoca? 

Continue usando perguntas abertas e curiosas para que você se perceba no processo e, ao mesmo tempo, se veja fora dele. Explore com curiosidade o que você está buscando e o que dispara sua necessidade de um hábito. 

Como você tem desenvolvido sua mente neutra e não reativa? 

Você consegue abrir momentos de micro pausa para conectar com suas emoções? 

No próximo capítulo

No próximo texto iremos falar dos próximos dois pontos do BANI e seu impacto em nós: a não linearidade e da incompreensibilidade. 

*Termo cunhado por Dan Herman e utilizado por Patrick McGinnis e Andrew Przybylski para descrever o desejo de estar permanentemente conectado com o que os outros estão fazendo.