A importância das emoções na saúde mental e bem-estar

Por Júlia Ramalho

Ter consciência do que impacta o nosso bem-estar, ajuda a construir a qualidade de vida. Embora não haja consenso sobre todos os fatores que favorecem o bem-estar, o assunto é estudado ao longo do tempo por diversas áreas, desde a medicina, psicologia, antropologia, economia, psicanálise, filosofia, neurociências.

A psicanálise teve e tem importante contribuição para o tratamento das doenças mentais. No início do século passado, o psicanalista Sigmund Freud escreveu o “Mal estar na civilização”. Ele acreditava que somos governados por pulsões (forças motivadoras) opostas, vida (Eros) e morte (Tânatos). 

Enquanto seres humanos temos, por princípio, a busca pelo prazer. Mas no caminho da realização dos desejos somos bloqueados pela “superpotência da natureza”, pela “caducidade de nosso corpo” e pela “regulação das relações dos seres humanos entre si através da família, do Estado e da sociedade”. 

Para Freud, o amor e o trabalho não são suficientes para lidar com a cultura e suas restrições. Sendo assim, os desejos dos indivíduos são irreconciliáveis com a civilização, gerando respostas de um mal estar, seja a neurose, a psicose ou perversão. Dessa forma, o pai da psicanálise acreditava que a felicidade e o bem-estar seriam muito difíceis de serem alcançados.

Contudo, o conceito de saúde mental veio mudando. E a Organização Mundial da Saúde, órgão da ONU, passou a defini-la como um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. 

Em outras palavras, se o indivíduo consegue se equilibrar em seu mal-estar, produzir, funcionar e se incluir na sociedade, então ele encontra a saúde mental. É o que hoje, em psicanálise, dizemos de saber fazer com nosso sintoma e ficar à vontade com a própria pele.

Um olhar para a mente e as emoções positivas

Martin Seligman, psicólogo de abordagem positiva, foi além das patologias clínicas e procurou definir os fatores que constituem o bem-estar. Por exemplo, ter emoções positivas, estar envolvido em uma atividade, como o trabalho, ter boas relações com outras pessoas, encontrar sentido na vida e ter um senso de realização na busca de seus objetivos. 

Já Yogi Bhajan, guru de Kundalini Yoga, considera que o bem-estar está ligado a um estilo de vida, o que ajudaria a desenvolver a autoconsciência. E esse processo passaria por reconhecer as nossas  mentes — positiva, negativa e neutra — e como operam e influenciam no nosso dia-a-dia. 

Nosso bem-estar e a felicidade evoluem na medida que desenvolvemos nossa “Mente Neutra” e processamos pensamentos, perspectivas e emoções, tanto negativas quanto positivas. Através da Mente Neutra tomamos decisões de forma ampliada e equilibrada com as emoções. 

Através da mente positiva conseguimos desenvolver a criatividade, nos abrir para o outro e cooperar. Ela ajuda a minimizar a mente negativa – ruminadora, julgadora, crítica, bloqueada, que foge e ataca. Ao desenvolver a mente positiva ajudamos a promover um equilíbrio e ativar a mente neutra, uma vez que, por constituição, nossa mente tende a ser negativa. 

Importância do conhecimento

Reconhecer as emoções que sentimos, avaliar o impacto delas no nosso corpo, na nossa mente e nas nossas relações passa a ser um trabalho a ser desenvolvido por todos.

Trata-se de desenvolver a autoconsciência, de estar consciente tanto do nosso humor quanto dos nossos pensamentos sobre o humor (John Mayer). E, de ter a capacidade de ler e compreender suas emoções, reconhecendo o impacto que elas causam em você e nos outros (Daniel Goleman). 

Através da competência emocional compreendemos o que sentimentos e porquê nos sentimos assim.

O estilo de vida acelerado e ansioso que vivemos atualmente nos distancia do tempo de ouvir e sentir as emoções, nos deixando à mercê dos fatores externos. Precisamos, então, de autoconsciência e, intencionalmente, desenvolver essa competência emocional para melhor cuidar da nossa saúde mental.  

Como aumentar a consciência das emoções? 

Para aumentar a consciência das emoções é preciso que se coloque mais intencionalidade. Abaixo descrevemos passos para aumentar esse foco e atenção:

  1. Permita sentir a emoção e o sentimento. 
  2. Reconheça e nomeie o que está sentindo
  3. Aceite o sentimento, sem fazer juízo de valor se deve ou não sentir, ou se senti-lo é bom ou ruim.
  4. Identifique o fato causador e associe a emoção a outros fatos nos quais essa emoção apareceu: Analise, não julgue!
  5. Procure refletir e sintetizar sobre o que há de comum nesses momentos em que a emoção aparece.
  6. Crie espaço para organizar e expressar esses sentimentos. Seja escrevendo, desenhando, compondo ou, mesmo, expressando através de uma comunicação cuidadosa e respeitosa nas suas relações. 
  7. Por fim, avalie como a percepção dos seus sentimentos durante o dia e a reflexão sobre eles o ajuda a lidar de forma mais adequada com eles. Observe como o ajuda a desenvolver uma maior consciência de como eles impactam os outros. 

Assim, a consciência da nossa mente e das emoções é um importante elemento da construção desse bem-estar e saúde mental. Nos tornamos mais estratégicos para lidar com as emoções, sendo capazes de ver outras respostas emocionais além das aprendidas, inventando respostas mais saudáveis e indo mais além do mal estar da civilização.

No próximo post vamos falar sobre a importância do bem-estar social. 

E você, como tem cuidado da sua saúde mental e bem-estar?

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