Precisamos falar do “Elefante na Sala” e a saúde mental nas organizações.

Por Júlia Ramalho

 

Era início da noite de domingo e o Brasil, em peso, aguardava o resultado das eleições mais acirradas dos últimos tempos. De um lado, votantes em Lula sonhavam com a vitória em primeiro turno ou que ele, pelo menos, terminasse a noite com larga vantagem, conforme estimado pelos institutos de pesquisa. Do outro lado, votantes de Bolsonaro esperavam pelo fim do assombro de ter Lula como presidente novamente. Afinal, todas redes bolsonaristas davam que ele iria ganhar no primeiro turno.

A noite veio.  E nenhum dos dois lados saiu tranquilo com os resultados. Todos ficaram tensos com o medo de que o outro lado vença. 

O que está acontecendo no nosso país?  O que a eleição tem a ver com a saúde mental de todos?

Quando apostamos num candidato, projetamos ali nossas esperanças. E quando nosso candidato perde a eleição vai junto com ele a desmontagem desta. Precisamos entender que o país está dividido e essa frustração impacta e impactará na metade que perde. 

Não há como, no dia seguinte da eleição, dizermos “vida que segue”! Há um buraco ai, é preciso se elaborar essa perda da ilusão. A perda da ilusão é algo muito forte por que, como disse Freud, a ilusão combate nossa condição de desamparo. Sem ela, entramos em contato diretamente com esse sentimento. A ilusão carrega em si nossos desejos inconscientes. Por isso, é tão difícil dialogarmos sobre os candidatos e suas propostas, se trata de algo muito mais complexo na nossa lógica de escolha. Cada um de nós projeta ali sua ilusão, somos pegos na teia do inconsciente. Ao mesmo tempo, fazer uma construção racional do porquê escolhemos o nosso candidato não significa que saibamos realmente todos os motivos pelo qual o escolhemos. Assim, sendo a ilusão uma realização de desejo, “ela não pode ser imposta ou proibida, demonstrada como verdadeira ou refutada como falsa, aceita ou descartada sob o ponto de vista moral.”(FREUD, 1927/1976, p.44)”. Perder essa ilusão é uma das coisas mais dolorosas que temos, não sendo possível simplesmente negar isso e continuar a vida como se nada estivesse acontecendo. 

Há um elefante dentro de nossos escritórios de trabalho, há um elefante nas nossas salas de casa, há um elefante nas salas de aula, há um elefante entre muitos de nós. E o nome dele é “Eleição”. Antes do primeiro turno, o país seguia relativamente quieto. Muitos aprenderam com as duas últimas eleições, dessa forma, evitaram o desgaste em grupos de trabalho e amigos. Mas isso não quer dizer que a Eleição e suas consequências não estejam aí entre nós. 

Passado o primeiro turno se viu uma tristeza no rosto de todos, há uma tensão no ar que não temos coragem de falar. O que não é dito se expressa em agressividade e conflito velado. As coisas vão ficando distorcidas, improdutivas e ineficientes. Há emoções que não estão sendo trabalhadas e elaboradas. E, novamente, emoção não elaborada vai virando doença. 

Se já vínhamos de um quadro de “quiet quitting” (conforme expliquei no último artigo) agora temos mais um elemento para abalar, nada menos que a metade da população brasileira. Não falar do impacto das eleições na saúde mental de todos nós é colocar o tema como um tabu (aquilo que não podemos conversar). 

Após as eleições, metade da população estará se sentido mais desamparada, mais desiludida e mais ansiosa. Quem vai dar conta desse sofrimento psíquico? Sim, essa conta vai cair novamente nas empresas e no colo de seus líderes. Alguns irão, inadvertidamente, aumentar a tensão comemorando abertamente como se fosse torcida de Futebol “eu ganhei e vocês perderam”. Outros, com empatia e gestão saudável, irão criar espaço e agendas para unir as equipes que hoje podem estar divididas. Lembrarão que Ek Ong Kar”! (numa tradução livre: “somos todos um”). Não há dentro e fora, nós e eles. E de forma sutil, irão criar possibilidades de elaborar perdas. Irão lembrar que, para além da ilusão da política, somos o país da ginga e do futebol. Permitirão que a Copa do Mundo torne possível mobilizar todos nós para que possamos, novamente, sonharmos juntos com organizações melhores e um pais melhor!

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]