A Liderança saudável e seu impacto na saúde mental nas organizações
Por Júlia Ramalho
Muito se fala de saúde mental abalada dentro das organizações. Um quadro que já vinha se instalando nas empresas com funcionários desengajados, desmotivados, e de liderança tóxica antes mesmo da pandemia. E, agora, vemos a situação se agravar.
Segundo pesquisa encomendada pelo Fórum Mundial Econômico, mais de 50% dos brasileiros afirmaram que sua saúde emocional e mental piorou desde o início da pandemia, um índice superior à média dos 30 países pesquisados. E ao longo dos últimos anos, muitos artigos têm trazido soluções pontuais para o problema, como atendimentos psicológicos, mindfulness e etc. Mas a responsabilidade do líder para promover a saúde mental ainda é muito pouco discutida.
Talvez seja um momento para pensarmos a saúde mental nas organizações de forma complexa e sistêmica. E, sem dúvida, trazendo um pouco mais de luz sobre o papel do gestor na promoção desse bem estar coletivo. Se o líder é aquele que tem visão, articula, comunica, motiva, engaja, delega, acompanha execução e traz o resultado, é preciso pensar de que forma a sua gestão impacta na saúde de todos. Mais do que refletir sobre líderes tóxicos – que causam dor na equipe, assediam e geram pressão e críticas desumanas – é
hora de pensarmos o papel do líder saudável, aquele que ajuda a promover a saúde mental nas organizações.
6 PONTOS QUE O LÍDER SAUDÁVEL AJUDA A DESENVOLVER E PROMOVER:
1- Autocuidado: Antes de cuidar da equipe, é preciso saber reconhecer suas próprias emoções, fragilidades, vulnerabilidades e cuidados pessoais. Quando não reconhecemos nossos limites, corremos o risco do nosso próprio adoecimento psíquico, impactando na nossa capacidade de conexão, relação, produção e criação.
2- Diagnostico da prontidão do seu funcionário: A prontidão indica o quanto ele está apto e domina os aspectos técnicos para executar tarefas. A partir disso, o líder sabe o quanto precisa dar suporte e acompanhá-lo. Mas na prontidão há também os aspectos que envolvem a saúde mental de seu subordinado. A saúde mental é complexa e envolve aspectos sociais (contexto, cultura e relacionamentos), psíquicos (personalidade, emoções, “mundo interno”), biológicos (genética e funcionamento do corpo) e espirituais (sua conexão e crença em “algo maior”, além da matéria). Saber ouvir e diagnosticar como está a saúde mental do colaborador é, hoje em dia, uma obrigação do líder. Claro que ele não precisa ser um psicólogo, mas reconhecer sinais de como está a saúde mental, segurança e motivação é o diferencial de um líder que cuida e valoriza sua equipe. Além de saber como apoiar e orientar os que precisam de uma ajuda profissional.
3- A equipe saudável: uma equipe saudável é aquela em que há colaboração, apoio e cuidado mútuo. O papel do líder saudável é, assim, de promover um ambiente de segurança psicológica onde as pessoas podem ser vulneráveis. Onde podem falar de suas dificuldades e pedirem ajuda. Mesmo em organizações muito competitivas, a liderança saudável é capaz de criar um ambiente diferenciado de valorização e cuidado dentro da equipe.
4- Os valores da organização: o líder é o porta-voz dos valores organizacionais. Dessa forma, ele, em si, é um dos elementos que estruturam a cultura organizacional. Cabe a ele zelar para que esses valores se materializem no dia-a-dia da equipe e nas ações e decisões de todos. Quando nossos valores são claros, eles ajudam na tomada de decisões, diminuindo ambiguidades e inconsistências. Valores dão o norte, diminuindo a angústia e ansiedade, principalmente em tempos de incertezas. Eles permitem que haja coesão e alinhamento de expectativas de comportamento de todos. Quando uma organização tem como valor a Diversidade, por exemplo, o gestor pode ser o porta-voz desse valor agindo pautado por ela. Ele pode contratar e incluir pessoas de diferentes perfis, gêneros, idades e formação em sua equipe. Ele pode promover treinamentos para trazer mais consciência e abertura pra todos.
5- Dialogo aberto e contínuo com equipe, RH e outras áreas: o líder saudável sabe que ele não está sozinho. Ele não evita o tema da saúde mental. Ao contrário, promove diálogos, ouve equipe e articula com outros líderes e RH para promover políticas e estratégias de saúde mental para todos. É fundamental co-criar soluções para que: (a) todos possam ter acesso a treinamentos e cartilhas de conscientização, (b) líderes possam ser treinados e aprenderem como diagnosticar e agir para promover saúde e crescimento dentro da organização, (c) pessoas em maior sofrimento possam ter acesso a atendimentos psicológicos, (d) haja ambientes e eventos para descompressão de estresse, dentre tantas outras possibilidades. Ouvir o problema, as ideias e ajudar a implantá-las é papel da liderança saudável.
6- Co-construção de possibilidades e novas estratégias: Quando o líder está perdido, ele olha para os dados do resultado e, de forma quase mágica, inventa percentuais de crescimento para pressionar a equipe. O líder saudável olha os dados, apoiado em inteligência (BI) para gerar insights e provocar a co-construção de novas estratégias de crescimento e de eficiência. Os dados não são usados para assediar com metas irreais, mas geram possibilidades de desenvolvimento de novos caminhos.
A organização, sendo um sistema complexo, precisa ter uma liderança pensada de forma integral, interativa e saudável. Não é possível resolver um problema tão complexo como a saúde mental dos funcionários deixando a cargo de uma área ou apenas de agentes externos. Os líderes estratégicos, mas não somente eles, precisam trazer para si a responsabilidade co-criar uma organização onde pessoas, processos e ambiente promovem a saúde e o crescimento de todos e, consequentemente, da própria organização.
E ai, gostou do texto? Me conta:
- Como você desenvolve sua liderança saudável?
- O que acredita ser necessário para desenvolver essa liderança na sua empresa?
- Como a saude mental está sendo tratada na sua empresa?
* Júlia Ramalho tem paixão em ajudar pessoas e organizações a resolver problemas complexos e a crescer. Tem mais de 30 anos trabalhando como consultora e mais de 18 trabalhando como coach. Ajudou mais de 1.200 executivos a desenvolver pessoas e expandir seus negócios. É Psicóloga, Administradora, Mestre em Administração, Coach de Executivos desde 2005 na Estação do Saber- Coaching e Consultoria, onde é fundadora e sócia. Em 2013 Fundou a Federação Internacional de Coaching – capítulo Minas. De 2015 a 2017 lançou o projeto de Designers do Futuro para ajudar a sensibilizar pessoas e organizações sobre o impacto das novas tecnologias no mundo do trabalho e nas organizações, tendo feito palestras em todo o Brasil sobre o tema. De 2015 a 2021 como coach e consultora da Ford no Projeto Mundial CEM (customer experience movement) onde adquiriu mais experiência em CX- Customer experience e EX- Employe Experience e aplicou dados ao processo de coaching. Em 2021, em conjunto com Arian Saddam Hossain (Bangladesh) o projeto dos DdF – Designers do Futuro se materializa em uma empresa Glocal especializada em novas tecnologias como Business Intelligence, Inteligência Artificial, Machine Learning e Blockchain para trazer crescimento às organizações.